
Refresco feito de folha de pitanga, cocaca de medula de mamoeiro, creme de urtiga, castanhas de monguba. Já ouviu falar? Isso tudo é Panc. Sigla para Plantas Alimentícias Não Convencionais. Existe um pessoal que anda pelas ruas procurando vegetais comestíveis que crescem mesmo sem ser plantados e podem render refeições. O movimento Panc prega que é preciso encontrar alternativas à produção de alimentos dos gigantes do agronegócio.
O Menu da Lú visitou um evento PANC para conferir como isso funciona e que gosto têm os pratos.

MIX PANC
Na pequena cozinha montada em um galpão onde já funcionou uma serralheria, os militantes produzem bolinho de rizoma com taioba com capeba, vendido a R$10, o citado creme de urtiga, que leva fécula de taioba, acompanhado de torrada com sementes de caruru e aipo silvestre (custa R$6), o mix Panc, mistura com castanhas feitas de monguba torrada e passas de uva japonesa, o refresco de folha de pitanga (R$3 o copo) e, como estamos em época de festa junina, fazem quentão Panc (R$4), em cuja composição entra lírio-do-brejo, hibisco e maria pretinha e a sobremesa, a cocada de meduda de mamoeiro com pacova, a R$3 a unidade (uma colher de sopa grande), além de outros petiscos.

Luis Carlos Silva, fotógrafo e ativista verde, vê eventos do gênero como uma centelha no caminho da divulgação de outras práticas alimentícias. “É interessante poder comer essas folhas que embora estejam totalmente fora do cardápio podem ser comidas. Além de diversificar a dieta, é importante porque assim mostramos que podemos nos alimentar de outras coisas, não só daquilo que foi definido como comida pela indústria da agricultura.”
Ele participa de feiras de trocas de mudas e cultiva no seu próprio quintal algumas mudas que depois oferece no intercâmbio com outros adeptos. Nos últimos tempos, recebeu uma muda de taioba roxa e jambu e entregou diversas mudas de pitanga, que cultivou a partir de caroços de pitangas colhidas em um local público da cidade de Sorocaba, no interior de São Paulo.

A FILOSOFIA É ÓTIMA, MAS O GOSTO…
Bem, a filosofia Panc é ótima e concordamos 100% que comer só aquilo a que estamos acostumados é limitador. Convém experimentar, abrir a mente para experiências alimentares não previsíveis. Mas com base naquilo que provei, o problema é: precisa melhorar o gosto. O mix Panc não é ruim. As castanhas de monguba são crocantes. Já a semente de uva é um pouco enjoada. O suco de folha de pitanga é tão suave que você nem sente que está tomando algo derivado da pitanga.O gosto do limão toma conta. A cocada tem apenas textura de cocada. Os demais preparos são, digamos, exóticos. Luis Carlos, que experimentou a taioba com capeba, diz: “O sabor não é espetacular, é verdade, mas é comestível.”
“Quem come mato é coelho. Eu quero é carne”. Isso costumava ser dito pelo meu avô, Sebastião Rodrigues, morto há mais de uma década. Ele nasceu em 1910 e não era fã de rúcula, alface ou couve. Tento imaginar a indignação dele quando eu chegasse com essa novidade.

MENU-DEGUSTAÇÃO
Há pessoas mundo afora se aprimorando em culinária Panc. Alguns grupos na cidade americana de São Francisco coletam as plantas e depois fazem jantares, pelos quais cobram em torno de 50 dólares por pessoa (hoje isso representa mais de 150 reais, não é pouco dinheiro!), para servir um menu-degustação, com entrada, prato, sobremesa e bebidas, tudo Panc.
No Brasil, quem organiza os eventos é o pessoal do Matos de Comer.
http://matosdecomer.blogspot.com.br/

Quem se interessar pode ler a respeito, conhecer melhor as plantas e sair catando por aí. O livro é Plantas Alimentícias Não Convencionais (Panc) no Brasil, que lista 351 espécies desses vegetais, com descrições detalhadas, nomes populares e científicos e lugares mais comuns para encontrar cada uma. E ainda 1053 receitas, com ilustrações dos pratos. Editada pelo Instituto Plantarum, a obra custa R$80.
E aí, vai encarar um matinho?